Da esquerda para a direita: o presidente dos Estados Unidos,Donald Trump; o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o dono do X,Elon Musk — Foto: Fotos de Jim Watson/AFP,Brenno Carvalho/O Globo e Kevin Lamarque/Pool/AFP
Com a posse de Donald Trump nos Estados Unidos para um mandato de quatro anos,parte dos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro têm alimentado expectativas de que o novo presidente americano e o dono da rede X,Elon Musk,tomarão iniciativas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes,relator dos principais inquéritos que fecharam o cerco contra o brasileiro – o das joias sauditas,da trama golpista e das fake news. A leitura de cenário,porém,não é compartilhada entre todos os interlocutores de Bolsonaro ouvidos reservadamente pelo blog.
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A análise de parte do entorno do ex-presidente é que a negativa de Moraes sobre o pedido de sua defesa para que ele reavesse seu passaporte e fosse autorizado a viajar para os EUA para acompanhar a posse de Trump,embora criticada,ajudou a reforçar a narrativa bolsonarista de perseguição jurídica entre os aliados americanos.
Estes mesmos aliados avaliam que um sinal verde do ministro dificultaria o argumento de que Bolsonaro é vítima de “lawfare”,termo usado pelo novo presidente americano para se referir aos diversos inquéritos abertos contra ele durante o governo Joe Biden. O ex-presidente foi convidado por Trump e acabou representado pelo seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle.
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“Por esse motivo eu estava pessoalmente torcendo pela rejeição do pedido,e muita gente no entorno também”,confidenciou sob anonimato um aliado de Bolsonaro envolvido na caravana de deputados que viajaram para acompanhar a posse em Washington.
Washington reforça segurança para posse de Trump
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Segurança será reforçada em Washington para a posse de Trump — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Evento será terceiro 'ato nacional de segurança especial' de alto nível em duas semanas — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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A posse da próxima segunda-feira será o terceiro "ato nacional de segurança especial" de alto nível em apenas duas semana — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Neste ano,país já teve a certificação das eleições em 6 de janeiro e o funeral do ex-presidente Jimmy Carter — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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A cidade se prepara para receber menos visitantes em 20 de janeiro do que na primeira posse de Trump,há oito anos,quando as autoridades anteciparam até um milhão de pessoas — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Casa Branca,o Capitólio e partes do percurso do desfile pela Avenida Pensilvânia já estão cercados por barreiras metálicas de 2,4 metros de altura — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Cerca de 25 mil agentes das forças de segurança e militares estão se concentrando em Washington — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Trump teve uma relação conflituosa com a prefeita democrata de Washington,Muriel Bowser,mas esta semana ela prometeu que não vai poupar esforços — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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No domingo,véspera da posse,milhares de apoiadores de Trump se concentrarão na capital para um comício do republicano — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Quem quiser assistir à cerimônia pessoalmente terá que se agasalhar,pois as previsões meteorológicas indicam temperaturas abaixo de zero durante todo o dia — Foto: Kayla Bartkowski/AFP
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Publicidade Evento será terceiro 'ato nacional de segurança especial' em duas semanas
Na semana passada,Eduardo comparou a situação de seu pai com a do dirigente americano ao agradecer a crítica da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes,controlada pelo partido de Trump,à decisão de Moraes de vetar sua viagem para o exterior.
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Estes mesmos interlocutores do bolsonarismo admitem sob reserva que não há uma definição clara do que Trump e Musk poderiam fazer para retaliar o ministro ou pressionar o STF na reta final da investigação da trama golpista,com uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) a caminho,mas ponderam que um aliado próximo no Salão Oval da Casa Branca contribui muito para “mudar o jogo”.
O próprio Bolsonaro externou essa opinião em uma conversa com jornalistas no último sábado (18) no aeroporto de Brasília.
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“Com toda certeza,se ele me convidou,ele tem a certeza que pode colaborar com a democracia do Brasil afastando inelegibilidades políticas,como essas duas minhas que eu tive”,disse o ex-presidente,que adiantou que não daria “palpites ou sugestões” sobre como o aliado dos EUA poderia ajudar na sua situação judicial.
“Só a presença dele,o que ele quer,só ações. Não vai admitir certas pessoas pelo mundo perseguindo opositores,o que chama de lawfare,que ele sofreu lá. Grande semelhança entre ele e eu. Também sofreu atentado”.
Projetos contra o STF
No ano passado,deputados trumpistas apresentaram um projeto de lei visando cassar o visto americano de Moraes durante a briga pública entre o magistrado e Musk com a suspensão do X no Brasil após a plataforma descumprir decisões do Supremo. Um segundo texto apresentado na Câmara dos Representantes dos EUA defendeu a mesma medida para todos os ministros do STF,o que tem sido encarado com ironia por Moraes.
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“Quem vai ser o primeiro a perder o passaporte?”,disse Moraes a um colega do STF recentemente. O próprio ministro costuma priorizar viagens à Europa do que aos Estados Unidos – e já chegou a ser hostilizado por uma família do interior de São Paulo enquanto aguardava embarque no aeroporto internacional de Roma.
Essas proposições seguem à disposição,observa um bolsonarista,que lembra ainda que o Partido Republicano de Trump controla agora as duas Casas do Congresso,além da presidência.
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Quem aposta em uma eventual ajuda do trumpismo conta com a influência de Elon Musk,que mergulhou de cabeça na campanha do agora presidente Trump e se tornou um dos aliados mais próximos durante a transição. O bilionário sul-africano foi escalado para liderar o Departamento de Eficiência Governamental,que ambiciona reformar o sistema público americano,e contará com um gabinete próprio dentro da Casa Branca.
Musk bateu de frente com Moraes e já chamou o ministro de ditador e exigiu sua renúncia e prisão. A briga,cujo pano de fundo são as decisões sigilosas do STF pela derrubada de conteúdos e perfis a pretexto de combater ataques contra a democracia e a desinformação,rendeu ao dono do X a inclusão dele no inquérito das milícias digitais e um procedimento aberto pela Polícia Federal (PF) para apurar seus ataques contra o magistrado.
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O empresário,segundo relatos colhidos pela equipe do blog,tem Moraes como um inimigo pessoal e costuma se divertir com memes bolsonaristas em tom jocoso sobre a aparência física do ministro. Essa antipatia,avaliam,pode ser um recurso importante para convencer a administração Trump de pressionar o STF brasileiro.
‘Brasil não é prioridade’
A leitura de que Trump e Musk estão dispostos a capitanear uma ofensiva contra o STF como um todo,e contra Moraes em particular,no entanto,não é consenso entre parlamentares da oposição e ex-integrantes da administração bolsonarista.
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“Na hora H ninguém consegue acessar o Trump”,afirmou um importante aliado de Bolsonaro que diz duvidar de qualquer gesto por parte do presidente americano com o bolsonarismo fora do poder. “Relações bilaterais se constroem com reciprocidade. Qual a contrapartida que Bolsonaro pode oferecer?”,completou,em referência ao fato de o ex-presidente não ter mais o poder sobre a máquina pública.
“Trump é próximo de Bolsonaro,mas a gente precisa separar as coisas. Ele vai governar olhando para os Estados Unidos. O Brasil não é prioridade”,concordou reservadamente um ex-ministro de Bolsonaro,que aposta em um outro tipo de abordagem: pressão por vias diplomáticas,como mobilizar a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil a procurar integrantes do Supremo para convencê-los a devolver o passaporte do ex-presidente.
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No discurso de posse na Rotunda do Capitólio nesta segunda-feira,Trump não mencionou o Brasil.
Para outro aliado de Bolsonaro,que participou ativamente de sua campanha presidencial,a oposição no Brasil deve capitalizar a vitória de Trump,mas sem se iludir de que o republicano “vai fazer o dever de casa” para a direita nacional.
“O lema de Trump é America First. A importância do Brasil para qualquer presidente dos Estados Unidos é mais ‘opcional’ que ‘existencial’,como a relação com o México”,comenta.
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“Pragmático que Trump é,ele valoriza mais um [Javier] Milei no poder do que um Bolsonaro que atualmente nem pode tirar passaporte. É preciso ter isso em mente,pois,se lembramos que o futuro presidente dos Estados Unidos já comemorou seus apertos de mão com o ditador da Coreia do Norte,não devemos nos surpreender se ele vier a adotar uma postura ‘negocial’ com Lula”.
Entre os que apostam em uma Casa Branca com as mãos estendidas para o bolsonarismo,é consenso que qualquer pressão ou medida dependerá de intenso diálogo entre aliados de Bolsonaro e o entorno de Donald Trump.
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“A fase de composição do governo Trump foi muito caótica”,analisou um aliado de Bolsonaro. “A expectativa é boa,mas a gente tem etapas ainda a serem seguidas. Então vai ter que haver um processo com reuniões [com a administração Trump]”.
Relações próximas
Jair Bolsonaro e Donald Trump são aliados próximos e foram presidentes contemporâneos entre 2019,quando o brasileiro assumiu o poder,e 2021,quando o americano deixou a Casa Branca após a derrota para o democrata Joe Biden. Bolsonaro foi o último líder estrangeiro democrático a reconhecer a vitória de Biden diante das acusações infundadas de fraude eleitoral por parte de Trump.
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Na eleição presidencial de 2022,o ex-presidente dos EUA gravou um vídeo pedindo voto pela reeleição do aliado do Brasil,que ficou conhecido nos EUA como o "Trump tropical". Em novembro passado,Eduardo Bolsonaro acompanhou a apuração da eleição presidencial americana na seleta festa do candidato republicano,que acabaria vencendo a então vice-presidente,Kamala Harris,na Flórida.
Eduardo,articulador internacional do clã Bolsonaro e secretário de Relações Institucionais e Internacionais do PL,mantém relação direta com o filho mais velho do presidente,Donald Trump Jr.,e congressistas trumpistas,além de outras lideranças de direita ao redor do mundo.