Como a perda da audição e da visão depois dos 65 anos eleva o risco de demência

A perda dos sentidos pode contribuir para a demência — Foto: Eleni Debo/The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 10/08/2024 - 04:30

Risco de Demência: Importância da Detecção Precoce e Intervenção

Perda de audição e visão após os 65 anos aumentam risco de demência. Estudos destacam que até deficiências leves afetam o cérebro,podendo acelerar sintomas em estágios iniciais. Tratar problemas visuais e auditivos reduz significativamente o risco,evidenciando a importância da detecção precoce e intervenção para melhorar a qualidade de vida e prevenir demência.

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Adultos com mais de 65 anos que apresentam perda de visão têm um risco quase 50% maior de desenvolver demência. Se esses problemas de visão forem corrigidos,esse percentual diminui drasticamente.

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Isso é indicado por um relatório publicado na semana passada por uma comissão internacional focada na prevenção da demência,que adicionou a deficiência visual à lista de 14 fatores de risco modificáveis para a condição. Outros fatores de risco incluem tabagismo,diabetes,isolamento social e hipertensão.

Especialistas afirmam que a inclusão da perda de visão não é uma surpresa,especialmente considerando que outra deficiência sensorial — a perda auditiva — também está associada à demência e está na lista.

Aqui está o que sabemos sobre como até mesmo a perda de visão e audição de leve a moderada pode aumentar o risco de demência e o que fazer a respeito.

Como a perda dos sentidos pode contribuir para a demência

Pessoas com perda sensorial têm menos estímulos entrando em seus cérebros. O tecido cerebral é do tipo "use-o ou perca-o",então menos estimulação pode levar a mais atrofia,afirma Gill Livingston,professora de psiquiatria no Universidade de Londres,que liderou a comissão de prevenção da demência.

A área do órgão que processa informações auditivas está próxima da região mais afetada pela doença de Alzheimer,sugerindo a existência de uma conexão anatômica. As informações visuais são enviadas para outra parte do cérebro,mas a forma como as usamos ativa muitas regiões diferentes.

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— À medida que você reduz a ativação de certas áreas do cérebro,você obtém taxas mais rápidas de atrofia nelas,até certo ponto — diz o médico Frank Lin,professor de otorrinolaringologia na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. — O que você pode imaginar que tem efeitos em cascata em outras áreas da função e estrutura cerebral também.

Além disso,pessoas que experimentam perda sensorial durante a vida adulta tendem a se retirar e não se engajar tanto socialmente. Há evidências que sugerem que a solidão pode mudar fisicamente o cérebro de uma pessoa,e é um fator de risco conhecido para a demência.

— A perda de visão te impede de ir a uma festa — aponta Natalie Phillips,professora de psicologia na Universidade Concordia em Montreal. — A perda auditiva significa que você vai para a festa,mas fica no canto e não conversa com ninguém.

A perda auditiva e visual também pode acelerar os sintomas em pessoas que estão nos primeiros estágios da demência. Leva mais energia cerebral para entender a visão embaçada ou sons distorcidos,então menos recursos podem ficar disponíveis para a memória e cognição do dia a dia. Isso pode levar a uma aparição mais rápida dos sintomas da demência se a pessoa já estava desenvolvendo o transtorno,pontua Livingston.

Por que é tão crucial tratar a perda dos sentidos?

Pesquisas da última década mostram que há benefícios cognitivos em tratar as perdas relacionadas à idade na visão e audição.

Perda de Visão

Vários estudos descobriram que pacientes com algumas das causas mais comuns de perda de visão associadas ao envelhecimento,incluindo catarata,retinopatia diabética e degeneração macular,têm maior risco de declínio cognitivo e demência.

– Estamos falando de perda visual não corrigida,ou seja,o quanto você não consegue ver – explica Livingston -- A magnitude da perda de visão corresponde ao aumento do risco.

Embora nem todas essas condições oculares possam ser revertidas,quando são tratadas e a visão é restaurada,o risco de demência das pessoas diminui. Em consonância,Livingston diz que pessoas com miopia ou hipermetropia não tratadas também podem ter maior risco,mas não aqueles que usam óculos ou lentes de contato para corrigir a visão.

Apoiando essa ideia,um dos estudos referenciados no relatório da comissão descobriu que adultos com 65 anos ou mais que se submeteram a cirurgia de catarata para corrigir a visão tiveram um risco aproximadamente 30% menor de desenvolver demência em comparação com adultos mais velhos com catarata que não foram operados.

Identificar um novo fator de risco para a demência é empolgante,“mas ficamos ainda mais animados se esse risco é modificável”,disse Cecilia Lee,professora de oftalmologia na Escola de Medicina da Universidade de Washington,que liderou o estudo sobre catarata.

Perda Auditiva

A perda auditiva não corrigida também representa um risco significativo para a demência. O relatório da comissão,ao reunir uma série de estudos,descobriu que pessoas com perda auditiva têm um risco 37% maior de desenvolver a condição. Quanto mais severa a perda auditiva,maior o risco.

Estima-se que 63% dos adultos com mais de 70 anos tenham algum grau de perda auditiva clinicamente significativa.

– Não estamos falando de uma pequena parte da população – descreve Lin – É quase a maioria dos adultos mais velhos.

A audição de todos naturalmente se deteriora a partir do início da idade adulta,porém o declínio de algumas pessoas é mais acelerado do que o de outras devido a genética ou exposição a ruídos altos,detalha Lin. Com perda auditiva leve,há dificuldade em ouvir sons abaixo de 26 decibéis — cerca do nível de um sussurro. A perda auditiva moderada começa em 41 decibéis e pode tornar difícil ouvir conversas normais.

Aparelhos auditivos podem ajudar e parecem reduzir a chance de desenvolver demência. Pacientes com perda auditiva corrigida têm um risco quase 20% menor de declínio cognitivo em comparação com pessoas sem a correção. E um ensaio clínico publicado no ano passado descobriu que,entre pessoas que tinham o maior risco de declínio cognitivo devido à idade ou outras condições de saúde,aquelas que usaram aparelhos auditivos por três anos tiveram um declínio cognitivo significativamente menor comparadas aos que não os usaram.

— Você não está vendo uma melhora "per se",mas está vendo uma redução do declínio —dz James Russell Pike,cientista pesquisador no NYU Langone Health,colaborador de Lin no trabalho.

O que fazer se estiver preocupado

O primeiro passo é fazer um exame.

Para avaliar sua saúde ocular,agende uma consulta com um oftalmologista e faça um exame oftalmológico dilatado uma vez por ano,aconselha Lee.

Para um teste auditivo,pode consultar um audiologista ou um especialista em otorrinolaringologia. Se preferir fazer em casa,Lin disse que aplicativos gratuitos de teste auditivo,como o Mimi,tendem a fornecer resultados precisos.

Se tiver perda auditiva ou de visão,trate o problema o mais rápido possível. Algumas condições oculares,como catarata,podem exigir cirurgia,mas o procedimento é relativamente rápido e não invasivo. Corrigir a perda auditiva é ainda mais fácil,já que aparelhos auditivos estão disponíveis sem prescrição.

Corrigir esses problemas não apenas reduzirá seu risco de demência,mas também melhorará sua vida diária,declara Phillips.

— O benefício de abordar isso para a qualidade de vida e engajamento,você sabe,não há nada a perder.

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