Eleições: futuro da direita passa por acomodação entre Bolsonaro e Tarcísio

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo,Tarcísio de Freitas (Republicanos),durante a manifestação pelo impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes na Avenida Paulista durante o feriado de 7 de setembro — Foto: Maria Isabel Oliveira/O Globo

Numa eleição em que o Brasil rumou para o conservadorismo e a direita dominou o cenário,sobram interrogações sobre o dia seguinte,especialmente sobre os efeitos desse novo cenário sobre a configuração da direita e sobre a disputa pela presidência em 2026.

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Uma das pistas para divisar uma resposta está na derrota no segundo turno dos candidatos pelos quais Jair Bolsonaro mais se empenhou – e que não por acaso ostentavam os discursos mais extremados. De Fred Rodrigues (PL),com quem o ex-presidente foi votar em Goiânia,a Bruno Engler (PL),menino-prodígio do bolsonarismo em Belo Horizonte,passando Cristina Graeml (PMB),apelidada de “Ivermectina Graeml” em Curitiba,todos apostaram na retórica agressiva ou na pauta de costumes para ganhar terreno e morreram na praia.

Duas derrotas em especial deram fôlego a desafiantes de Bolsonaro na direita: em Goiânia,onde Ronaldo Caiado emplacou Sandro Mabel (União Brasil),e Campo Grande,onde Tereza Cristina elegeu Adriane Lopes (PP). Ambos tem boas chances de chegar a 2026 como candidatos de seus partidos,justamente para aproveitar o apetite do eleitor pelo voto na direita e fazer boas bancadas para o Parlamento.

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Candidatura para valer,porém,é outra coisa.

Nesse quesito,a eleição mostrou que só uma liderança da direita hoje tem condições de fazer frente ao ex-presidente: Tarcísio de Freitas.

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Num dos momentos mais críticos da campanha em São Paulo,quando Ricardo Nunes suava frio com a ascensão de Pablo Marçal,Bolsonaro recomendou que o governador largasse a mão do aliado e ele resistiu.

Ao se manter fiel ao prefeito e se tornar o fiador da vitória,Tarcísio não demonstrou apenas que tem vida própria na política. Com a eleição de Nunes e de 629 dos 645 prefeitos do estado,o governador também demarcou uma linha clara,como quem diz a Bolsonaro que,da divisa do estado para dentro,quem manda é ele.

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A opção de Tarcísio de não se engajar e nem opinar sobre as disputas fora de São Paulo – ainda que estivesse acompanhando tudo com atenção e método – foi estratégica. O governador sabe que a vitória em São Paulo reforça seu potencial para 2026,mas não pretende nem decidir-se pela candidatura e nem comprar briga com Bolsonaro antes da hora.

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O ex-presidente ainda acredita realmente que pode reverter a inelegibilidade e,enquanto essa possibilidade não for definitivamente sepultada – o mais provável hoje –,não vai ser Tarcísio quem a desafiará.

Como dizia o ex-governador Magalhães Pinto,política é nuvem. Os ventos que sopraram na eleição municipal estão a favor do governador paulista. Se ele vai aproveitá-los,é cedo para dizer. Mas,se o fizer,o resto da direita (incluindo Bolsonaro) não terá alternativa a não ser seguir com ele.

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