Eleitores de Niterói escolhem novo prefeito e rumo político: 'legado' ou 'mudança'

Carlos Jordy e Rodrigo Neves posam logo após votarem no primeiro turno: pleito hoje decide quem vai governar a cidade a partir de janeiro — Foto: Fotos de divulgação

Com histórico de ser uma cidade governada por prefeitos ideologicamente ligados à esquerda,Niterói vai às urnas hoje pela primeira vez com um candidato de direita chegando ao segundo turno de forma expressiva. Desde o processo de redemocratização,no fim dos anos 1980,a cidade foi administrada apenas por chefes do Executivo do PT e do PDT — partido que leva mais uma vez Rodrigo Neves a disputar o cargo,já ocupado por ele de 2013 a 2020. O estreante Carlos Jordy,aliado do bolsonarismo,saiu do primeiro turno com cerca de 36% dos votos. Ao longo desta campanha,marcada pela polarização,os candidatos mostraram o tom de suas respectivas escolas políticas.

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Enquanto Neves se posicionou como o “prefeito-síndico”,alguém que conhece bem a cidade e cujas obras ainda ressoam como legado,Jordy focou em criticar a suposta corrupção do grupo que,segundo ele,administra Niterói há mais de 30 anos. Essa postura ficou clara no único debate entre os dois,promovido na semana passada pelo g1.

Na avaliação do professor de Ciência Política da UFF José Paulo Martins Júnior,Rodrigo Neves conseguiu colocar Carlos Jordy na defensiva,explorando a atuação do deputado federal em prol do município. Enquanto Rodrigo destacou suas realizações à frente da prefeitura,Jordy defendeu seu mandato e criticou o adversário e seus aliados.

— Rodrigo soube explorar bem isso. Acho que a defesa de Jordy,em alguns momentos,foi sólida,pois ele mostrou que não acredita ser inteligente destinar emendas orçamentárias ao município. Mas,no geral,Rodrigo se apresentou como um candidato realizador,enquanto Jordy se concentrou na questão moral e na corrupção — analisa o professor.

Mayra Goulart,professora de Ciência Política da UFRJ,também seguiu essa linha ao analisar as campanhas. De um lado,um candidato com trajetória política local; e do outro,um adversário que se apresenta como a mudança.

— Um ponto interessante foi Rodrigo criticar a postura de Carlos Jordy durante a pandemia,acusando-o de participar de aglomerações e ser antivacina. No entanto,nas redes,Rodrigo destacou medidas de apoio às pequenas empresas,alinhando-se a um discurso tradicionalmente de direita,focado na preservação dos negócios durante a crise. Isso contrastou com as críticas ao bolsonarismo. Temos,de um lado,um candidato com ampla trajetória e apoiado por uma frente diversa; e do outro,alguém que se apresenta como o candidato da mudança — pontua.

Corrupção,tema recorrente

Os escândalos envolvendo a Emusa e o Ceperj também apareceram no debate,com trocas de acusações sobre corrupção e favorecimento de familiares. Jordy destacou o caso da empresa municipal investigada desde 2013,sob suspeita de manter funcionários fantasmas e abrigar apadrinhados políticos. Rodrigo Neves,por sua vez,lembrou que a mulher e o cunhado de Jordy aparecem na lista de pagamentos secretos da Ceperj,fundação do governo estadual investigada pelo Ministério Público.

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Sobre as acusações de corrupção,o professor da UFF destaca que o tema é recorrente em campanhas,mas não vê nisso um fator decisivo para o pleito ou capaz de conquistar eleitores indecisos,já que as denúncias se anulam.

— Nem sempre o eleitor consegue identificar qual candidatura está mais preparada para enfrentar a corrupção. Esse é um problema central na política brasileira há muito tempo,mas os eleitores olham para os candidatos e não veem alguém capaz de resolvê-lo. Muitas vezes,acabam se apegando a figuras como Lula ou Bolsonaro,mas essas ilusões se desfazem rapidamente. Acho que,no caso de Jordy e Rodrigo,as denúncias se anulam,já que ambos têm problemas — conclui.

Os dois lideraram o pleito no primeiro turno,que teve a deputada federal Talíria Petrone (PSOL) como a terceira colocada e Bruno Lessa (Podemos) na quarta posição. Rodrigo recebeu 48,47% dos votos,enquanto Jordy obteve 35,59%. Na sequência,apareceram Talíria,com 12,65%; e Lessa,com 3,14%.

Logo após a confirmação do segundo turno na cidade,a deputada federal decidiu apoiar Rodrigo,destacando que,neste momento,estaria “ao lado da democracia”. Dias depois,Lessa declarou apoio a Jordy,citando problemas como o inchaço da máquina pública e a falta de vagas em creches para justificar seu posicionamento.

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