Deputada federal maria do Rosário (PT) e prefeito de Porto Alegre,Sebastião Melo (MDB). — Foto: TV Globo
O debate desta sexta-feira entre os candidatos à prefeitura de Porto Alegre,capital do Rio Grande do Sul,foi marcado por temas como educação e a responsabilidade pelas enchentes que atingiram a cidade em abril. O embate,realizado pela TV Globo,é o último antes da eleição deste domingo,quando o atual chefe do Executivo porto-alegrense,Sebastião Melo (MDB),enfrenta a deputada federal Maria do Rosário (PT).
A primeira rodada,de tema livre,foi iniciada pela candidata petista,que questionou o atual mandatário sobre a queda do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na cidade,que chegou à segunda pior colocação entre as capitais em 2023. O prefeito reconheceu o problema,mas citou feitos como a nomeação de 1,6 mil professores e jogou a culpa para governos anteriores da legenda de Maria do Rosário.
— Sou o primeiro a reconhecer que a questão do Ideb precisa melhorar. Mas é preciso dizer que ele não é de agora,vem de governos anteriores,inclusive de governos do PT,que passavam as crianças sem saber ler e escrever (...) Mas reconheço que há um problema,e se eu for reeleito será um problema número um — alegou Melo.
A candidata petista,no entanto,lembrou que houve uma queda recente,quando a cidade já estava sob o comando do emedebista: — Em 2021,o Ideb estava na 20º posição. No seu governo,caiu para 26º,penúltima. Entre o começo do seu governo e o fim,a nota piorou.
Maria do Rosário também citou escolas que estariam sem gás,ao que Melo sugeriu que seriam casos de diretores da oposição querendo "fazer um enfrentamento político a dois dias da eleição": — Quando tem professores que mais se preocupam com partido político do que com a educação,isso é um problema também em Porto Alegre.
Rapidamente,as enchentes de abril,consideradas a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul e que deixaram milhares de moradores da capital gaúcha desabrigados,vieram à tona e dominaram o debate.
A deputada federal defendeu que houve negligência da parte do prefeito:— O senhor não tomou as providências. (...) Todo mundo viu como as casas de bomba estavam sem funcionar — acusou a petista.
Melo rebateu as alegações: — A senhora acredita mesmo nessa narrativa? Tivemos o maior desastre climático do Rio Grande do Sul. O sistema concebido pelo governo federal se mostrou ineficiente. Estamos fazendo as obras de recuperação — disse.
O prefeito chegou a citar que "o governo do PT era o governo do alagamento” em referência a gestões anteriores da capital. Além disso,disse que "o sistema é responsabilidade do governo federal,e nunca houve uma manutenção": — Só tem um caminho,refazer o sistema antigo,de forma emergencial,e fazer um sistema novo.
Maria do Rosário rebateu o mandatário ao dizer que "ele quer passar para o presidente Lula a responsabilidade de não ter cuidado das bocas de lobo (parte do sistema de drenagem),de ter colocado sacos de areia do lado errado".
A candidata disse que vai recriar o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP),autarquia criada nos anos 70 para operar o sistema de drenagem,mas que foi extinta em 2019 ao ter suas funções absorvidas pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
O debate também ganhou contornos nacionais quando Maria do Rosário citou os indícios de corrupção na pasta da Educação durante a gestão de Melo. O prefeito afirmou ter aberto uma investigação,porém questionou o incômodo da parlamentar,que seria “seletivo”:
— A senhora tem uma indignação aqui. Mas,quando casos de corrupção foram provados nos governos que o seu partido lidera,eu não vi nenhuma indignação. É seletiva a sua indignação,eu não tenho ladrão de estimação do meu lado.
A petista questionou,então,Melo sobre o apoio a Jair Bolsonaro (PL) e o que o prefeito teria feito quando o ex-presidente extinguiu o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),estatal fabricante de chips que ficava em Porto Alegre. A decisão foi revertida pelo atual presidente,Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Melo disse ser “um prefeito de diálogo” e não ser “radical”. Mesmo depois de ter mencionado os governos do PT diversas vezes,defendeu que “a eleição é municipal,não é federal”. Já a petista defendeu saber “os caminhos em Brasília para buscar os recursos” graças à atuação como deputada federal e a relação com presidente Lula.
Melo é favorito à reeleição
No último dia 6,Melo recebeu 49,7% dos votos válidos e liderou a votação no primeiro turno. Já a parlamentar petista conquistou 26,3% dos eleitores,o suficiente para levá-la ao segundo turno contra o atual prefeito.
Melo é advogado,tem 66 anos,e foi vereador e vice-prefeito antes de chegar,na segunda tentativa,ao comando do Paço Municipal. Já Maria do Rosário é professora,foi eleita vereadora,deputada estadual e federal e atuou como ministra da Secretaria dos Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff. Essa é a segunda vez que busca a prefeitura.
Com quase 50% dos votos válidos,Melo chegou perto de ser reeleito já no primeiro turno. As pesquisas divulgadas desde então mostram um cenário confortável para sua recondução ao cargo daqui a dois dias. No levantamento da AtlasIntel da última terça-feira,o prefeito aparecia com 57,2% dos votos válidos,contra 42,8% da parlamentar petista.
Um dos principais pontos abordados ao longo da campanha foram as enchentes. Para Melo,o episódio evidenciou a necessidade de adaptações no sistema de drenagem do município. O prefeito citou que obras de reforço já foram iniciadas e defendeu a sua reeleição para a continuidade das medidas implementadas.
Maria do Rosário,porém,alegou que o sistema não foi o problema,mas sim a gestão de Melo que não realizou a manutenção adequada dos equipamentos para garantir o funcionamento durante as fortes chuvas. A petista também falou em adotar medidas para enfrentar as mudanças climáticas,tópico evitado pelo atual mandatário.
Outros pontos de destaque do segundo turno foram relacionados à saúde e à educação. Enquanto Melo ressaltou medidas como aumento no número de atendimentos,nomeação de professores e reformas em escolas,Maria do Rosário direcionou críticas às ainda longas filas nos hospitais e à queda expressiva na nota do Ideb em Porto Alegre.