Brasil atrai cada vez mais investimentos de petroleiras em pesquisas de energia verde

Na Coppe/UFRJ,petroleiras estudam no Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano) a influência dos ventos para avaliar,por exemplo,o potencial da energia eólica em alto-mar — Foto: Ana Branco / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 21/10/2024 - 04:00

Investimentos em Energia Verde no Brasil: Crescimento e Desafios

O Brasil tornou-se destino principal de investimentos das petroleiras em transição energética,com aportes crescendo 1.600%. Regulamentação da ANP impulsionou recursos para fontes renováveis. Empresas como TotalEnergies e Petrobras focam em pesquisa de energia verde,enquanto desafios persistem para transformar inovações em negócios. Ainda há incertezas sobre marcos regulatórios e mercado de carbono.

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Pressionadas a colaborar com a descarbonização do planeta para combater as mudanças climáticas,as maiores petroleiras do mundo escolheram o Brasil como um dos principais destinos de seus investimentos em soluções para a transição energética.

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Os aportes dessas empresas em pesquisas de fontes renováveis de energia no país cresceram quase 1.600% nos últimos quatro anos. Passaram de R$ 37,5 milhões (1,5% do total aplicado por elas em inovação no país em 2020) para R$ 635,7 milhões (16,3% do geral em 2023).

Em algumas dessas companhias,o volume investido em inovações verdes já ultrapassou o das pesquisas em exploração e produção de petróleo e gás com projetos em áreas como hidrogênio,energia eólica e solar,além de biocombustíveis e técnicas de captura de carbono.

Sensores em tanque medem impacto das ondas em aerogeradores — Foto: Ana Branco / Agência O Globo

O avanço é reflexo de uma alteração na regulação do setor feita em 2022 pela Agência Nacional do Petróleo (ANP),que permitiu contabilizar projetos de transição energética como parte da obrigação das empresas do setor que atuam no Brasil de destinar 1% de sua receita para pesquisa,desenvolvimento e inovação (PD&I) no país.

A mudança ampliou a vocação natural do Brasil como destino do crescente orçamento verde das petroleiras,atraindo mais recursos de multinacionais para desenvolver novas tecnologias aqui em vez de em outras partes do mundo.

Segundo dados da ANP,o volume total de pesquisas do setor,incluindo óleo e gás,também cresce. Os aportes em PD&I subiram de R$ 1,5 bilhão para R$ 3,9 bilhões entre 2020 e 2023. Nos primeiros seis meses deste ano chegaram a R$ 2,02 bilhões,mais que os R$ 1,75 bilhão do mesmo período do ano passado.

'Coração tem mudado a batida'

Os recursos aplicados em PD&I são voltados apenas para o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas ou estudos de viabilidade de projetos,o que inclui a criação de novos laboratórios e centros de pesquisa. Em geral,são iniciativas em fase inicial,ainda sem escala econômica. Em outras rubricas de seus planos de investimentos,essas companhias já têm investido pesado em empreendimentos de energia renovável no Brasil,dos biocombustíveis aos aerogeradores.

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— As petroleiras estudam fontes renováveis porque precisam descarbonizar suas operações e reduzir emissões. Esse objetivo envolve a busca por fontes para eletrificar as operações ou a diversificação em si para entrar nesses mercados. O coração tem mudado a batida — define Daniel Maia Vieira,um dos diretores da ANP,que vê como crescente a tendência de investimentos do setor petrolífero na transição energética.

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Ele acrescenta:

— Antes de 2022,as empresas já demonstravam interesse e investiam em alguns projetos de energias renováveis,porém limitados à correlação com a indústria do petróleo,gás e biocombustíveis,o que reduzia bastante as possibilidades. Com a transição energética em curso,passaram a identificar novas oportunidades. O portfólio de PD&I começa a refletir os investimentos futuros. Se você já começa a ver o aumento dessa fatia agora,logo isso se transformará em investimento real.

‘Não é virar a chave’

A francesa TotalEnergies aplicará ao menos 65% do seu investimento em PD&I no Brasil nos próximos três anos em fontes renováveis,uso de baterias,produção de metano e captura de gás carbônico. Tem mais de 80 parcerias com universidades e indústrias no país.

Em agosto,a petroleira abriu núcleos de pesquisa com Unicamp,USP e UFRJ,onde há projetos de geração solar e eólica e de biogás,entre outras fontes. Segundo Charles Fernandes,diretor-geral da TotalEnergies,a evolução da pesquisa para energia de baixo carbono aponta para o futuro da empresa.

Na UFRJ: laboratório de computação ajuda pesquisas verdes com simulações — Foto: Ana Branco / Agência O Globo

— O investimento associado a esses projetos no Brasil é de mais de R$ 447 milhões — diz o executivo. — A transição energética impacta o clima,assim como o contexto social. Não é simplesmente virar a chave. Para que a transição aconteça de forma ordenada,o mundo precisa investir simultaneamente em energia com base em combustíveis fósseis de forma mais sustentável e,ao mesmo tempo,acelerar os esforços em fontes renováveis.

Para José Javier Salinero,gerente de P&D da Repsol Sinopec,o aperfeiçoamento no regulamento da ANP favoreceu a estratégia da companhia sino-espanhola de direcionar cada vez mais esforços para atingir sua meta de zerar emissões líquidas até 2050. Segundo ele,depois da sede,na Espanha,o Brasil é o país com maior investimento em tecnologia do grupo no mundo.

São 30 projetos aqui,incluindo um piloto de captura de dióxido de carbono (CO2) emitido por qualquer tipo de atividade,independentemente de sua fonte geradora,e outro que emprega resíduos de biomassa na fabricação de cimentos.

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— Atualmente,mais de 50% do portfólio de P&D está em tecnologias de descarbonização. Nos últimos cinco anos,foram investidos R$ 550 milhões. Em 2024,serão mais R$ 80 milhões. Nossa meta é aumentar progressivamente o percentual de investimentos em projetos Net Zero,chegando a 50% até o ano de 2025 — diz Salinero.

Ele complementa:

— Temos ainda o Wind2 Energy,que faz a avaliação do potencial eólico offshore (em alto mar) de uma determinada região,por meio da integração de um barco autônomo (USV) a um dispositivo de medição de velocidade do vento,conhecido como Wind Lidar. Outro projeto é o Voltz,para otimização das tecnologias fotovoltaicas,maximizando a geração de energia associada ao cultivo no solo embaixo de painéis solares.

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Na americana ExxonMobil,metade dos R$ 225 milhões investidos recentemente em pesquisa no Brasil foi para fontes renováveis e eficiência energética. Segundo o gerente dessa área na petroleira,Marcio Bastos,a empresa busca novidades em combustíveis de baixa emissão,hidrogênio,captura,utilização e armazenamento de CO2,e outras soluções energéticas baseadas na natureza:

— Até o fim de 2023,foram iniciados mais de 20 projetos de pesquisa,sendo 45% em soluções de baixo carbono como biocombustíveis e armazenamento de CO2 e 13% na de novos materiais em polietileno (para ampliar reciclagem de materiais plásticos). Baseado nos projetos de pesquisa assinados até 2023,o portfólio (de PD&I) da companhia se encontra bem equilibrado entre soluções de baixo carbono e óleo e gás,com aproximadamente 45% e 42% de cada área,respectivamente.

Na Petrobras,R$ 15 bi

Na Petrobras,que voltou a mirar na agenda verde sob o governo Lula,a meta é dobrar,até 2028,a participação de fontes renováveis no portfólio de PD&I,que hoje é de 15%. No total,a brasileira informou que prevê R$ 15 bilhões para estudar todas as fontes nos próximos quatro anos. Em parceria com 200 universidades e instituições de ciência e tecnologia,a Petrobras já mapeou 17 iniciativas nessa área,incluindo geração eólica em terra e no mar,hidrogênio e descarbonização de operações.

A Shell,que de 2018 a 2023 investiu cerca de R$ 2,5 bilhões em pesquisa no Brasil,destina cerca de 30% ao desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono. Segundo Cristiano Pinto da Costa,presidente da multinacional anglo-holandesa no Brasil,o ecossistema envolve 1,6 mil pesquisadores,polos em universidades e parcerias com mais de 20 instituições acadêmicas e institutos de pesquisa.

Há,projetos que utilizam o agave (planta suculenta usada na produção de tequila) para produzir etanol e estudos que utilizam o próprio biocombustível como vetor da produção de hidrogênio,mas sem deixar de inovar na área petrolífera.

— O setor de petróleo e gás é peça-chave para gerar caixa e financiar novos projetos de transição — diz Costa. — Em outubro,iniciamos o Centro de Bioenergia,em Piracicaba,em parceria com a Raízen e o Senai. A Shell está investindo R$ 72 milhões. A missão do centro é desenvolver soluções de descarbonização a partir da cana-de-açúcar.

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A pesquisadora Suzana Kahn,diretora da Coppe/UFRJ,diz notar uma mudança no foco das pesquisas das petroleiras,com maior interesse por estudos para determinar os melhores locais no Brasil para instalar projetos de renováveis e o uso de energia solar em plataformas. Ela diz que os temas de transição energética têm se tornado transversais,o que exigiu uma mudança no perfil de grande parte dos laboratórios da instituição voltados para o setor de óleo e gás,no Rio.

Suzana Kahn,diretora da Coppe-UFRJ. — Foto: Fabio Rossi

— Os espaços estão se apresentando por temas. Por exemplo,no laboratório de tecnologia oceânica estudamos desde plataformas a usinas eólicas offshore. Hidrogênio passou a fazer parte do laboratório de metalurgia. O de Métodos Computacionais em Engenharia engloba diversos segmentos — ela conta.

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Mas ainda há muitos desafios para a transformação em negócios de inovações nessa área,como a produção do hidrogênio verde,as eólicas em alto mar e a captura e armazenamento de carbono. Apesar do avanço recente de algumas legislações no Congresso,Vieira,da ANP,diz faltar regras mais claras:

— Precisamos de marcos regulatórios. Há muitas questões em aberto. Qual será o papel da ANP? Quem vai conceder as licenças? O mercado de carbono vai acontecer? Quem vai comprar? Tudo ainda é muito incerto. Temos a necessidade de desenvolver as novas tecnologias,mas também de desenvolver o mercado.

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