Entrevista: 'A Igreja não pertence ao bolsonarismo, nem ao petismo', diz deputado pastor que abençoou Lula em cerimônia

O deputado federal Otoni de Paula discursa na Câmara — Foto: MyKe Sena/Câmara dos Deputados/14-06-2023

RESUMO

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GERADO EM: 17/10/2024 - 03:30

Deputado Otoni de Paula: Relação entre igreja e política no Brasil

O deputado Otoni de Paula abençoou Lula,criticou Bolsonaro e destacou a independência da igreja em relação à política. Ele aponta a necessidade de o PT se reinventar para se reaproximar dos evangélicos. Reconheceu erros passados e ressaltou a importância do diálogo com líderes religiosos. Afirmou que sua igreja não segue tendências políticas e mencionou possíveis apoios futuros a Eduardo Paes,mas não a Lula.

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Uma das lideranças da bancada evangélica,o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ),que participou de cerimônia na última terça no Palácio do Planalto com o presidente Lula,diz que o PT foi “consumido por uma pauta identitária” e que precisaria “se reinventar” para reduzir o “abismo imenso com a maioria dos evangélicos”. Ele reconhece,porém,ter errado no passado ao associar a esquerda a pautas como a pedofilia,e critica o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo que chama de “arrogância” no trato às igrejas.

Com aliado de Bolsonaro: Lula faz aceno aos evangélicos e sanciona lei que cria dia da música gospel'Não era Bolsonaro?': Lideranças evangélicas criticam Otoni de Paula por ida à cerimônia de Lula no Planalto

O senhor se dispôs a ser um interlocutor de Lula com o eleitorado evangélico?

Não,eu apenas quis mostrar que a igreja não pertence ao bolsonarismo,nem ao petismo,está acima disso,embora pareça desde 2018 que fomos arrebatados pela política. O fato de eu ter antagonismo político com o PT não muda o papel da igreja de orar pelas autoridades. Mas ficaria incoerente levantar uma bandeira pró-Lula.

Lula já teve excelente relação com as principais igrejas evangélicas em seus primeiros mandatos. O que mudou?

Lula e o PT foram consumidos por uma pauta identitária que é claramente oposta à nossa visão. Embora Lula diga que não defende essas pautas,a partir do momento em que permite que seus ministros defendam pautas como o aborto,isso cria um abismo imenso com a maioria dos evangélicos,que são conservadores. Um gesto como o de sancionar o Dia da Música Gospel não é suficiente.

Que tipo de gesto seria necessário?

Para haver uma aproximação entre Lula e a igreja,o presidente teria que reinventar a si mesmo e ao PT,e isso não vai acontecer. Mas esse abismo não me impede de orar. Jesus sempre abriu diálogo com quem a religião jamais conversaria: prostitutas,cobradores de impostos...

O senhor teme que sua foto ao lado de Lula lhe traga rejeição e afete sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro,cuja gestão o senhor apoiou?

Eu nunca fui do partido de Bolsonaro,meu voto não vem do “bolsominion”. Eu sou de uma igreja,o Ministério de Madureira (da Assembleia de Deus),que não se submete à política do momento,e que por isso consegue estar à frente de várias lutas dos evangélicos. E acho que a eleição deste ano deixou a lição de que é preciso haver mais humildade e diálogo com as lideranças evangélicas. A igreja evangélica não tem papa,ela é plural.

Bolsonaro falhou em entender isso nas eleições deste ano?

Acharam que Bolsonaro falar “vote em fulano” bastava. Isso é arrogância,a igreja evangélica não vai a reboque. O eleitor vota em quem faz políticas públicas que chegam até ele,e o evangélico não é diferente. No caso dos programas sociais do governo federal,os mais beneficiados são os evangélicos,temos maior penetração na base da pirâmide. Pelo mesmo raciocínio,se o (prefeito do Rio) Eduardo Paes faz uma boa gestão para os cariocas,isso também é bom aos evangélicos.

Em 2020,o senhor chegou a vincular Paes e a esquerda a um plano de “implementar pedofilia nas escolas”,o que é falso. Reconhece que errou?

Hoje faço uma autocrítica,sim,de que aquilo foi equivocado. Eu errei,naquele momento de paixões políticas,em ter falado sem nenhuma prova sobre um possível risco que nossas escolas corriam.

O senhor apoiou a reeleição de Paes neste ano. Também apoiará uma possível chapa dele ao governo do Rio em 2026,abrindo palanque para Lula?

A maioria dos evangélicos votou em Paes porque seu comportamento não é o de um político esquerdista,diferentemente do PT. Se Paes for candidato em 2026,estarei com ele,mas não com Lula.

E qual será seu papel numa eventual campanha de Paes?

Estou disponível para qualquer missão. Há mais de 20 anos a igreja consegue eleger um candidato ao Senado quando há duas vagas. Crivella se elegeu duas vezes (2002 e 2010),e Arolde de Oliveira,em 2018. Se houver um entendimento de Paes e do meu bispo Abner (Ferreira,do Ministério Madureira) de que sou um nome bem posicionado,poderíamos nos colocar na disputa.

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