Rick Rhoads,de 80 anos,e sua neta Lucy Erent,de 15 anos,percorrem junto um trecho da trilha West Highland Way,perto de Balmaha,na Escócia — Foto: Robert Ormerod/The New York Times
RESUMO
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"Viagens de aventura para idosos nos EUA: tendência impulsionada pela expectativa de vida saudável"
Viagens de aventura entre idosos nos EUA estão em alta,com destaque para roteiros desafiadores. Aumento da expectativa de vida saudável impulsiona essa tendência. Agências especializadas oferecem opções ousadas para avós e netos,como safáris e mergulhos. Dicas de preparação e experiências compartilhadas enriquecem os momentos em família. Alguns idosos preferem aventuras radicais e lidam com tecnologia para organizar viagens,enquanto outros contam com agências que facilitam o processo.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Rick Rhoads,estava "treinando feito louco" no início do ano,caminhando quase dez quilômetros todo dia — "só de subida" — em preparação para as férias de verão. Ao lado da neta de 15 anos,Lucy Erent,que mora em Praga,o morador das Ilhas Orcas,no estado de Washington,pretendia percorrer os 186 quilômetros da West Highland Way,na Escócia,em oito dias.
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A rota,que atravessa fazendas,florestas e acompanha o Loch Lomond,nas Terras Altas,é composta de todo tipo de terreno,incluindo ladeiras íngremes e trilhas rochosas. A dupla contratou uma agência para organizar a acomodação e o transporte diário da bagagem.
Rhoads não se assustou com a distância,muito menos com a diferença de idade; na verdade,disse que estava ansioso para continuar as discussões que tinham nas chamadas de vídeo sobre os temas mais variados,como peças teatrais,cosplay,pandemia e a dinâmica familiar.
— Mas vou deixar que ela fale bastante enquanto estivermos nas subidas — brincou.
Quando finalmente puseram a aventura em prática,no início de julho,houve apenas alguns senões: a caminhada foi mais exigente do que o esperado e um pé da bota de Rhoads começou a desintegrar já quase na chegada — nada que um pedaço de fita isolante não tenha resolvido.
— No geral,foi duro,mas não vejo a hora de fazer outras; só que da próxima vez vou fazer uma rota que passe por vários cafés.
Os 60 podem ou não ser os novos 40,mas não há dúvida de que muitos adultos mais velhos estão aproveitando ao máximo o "período saudável" mais longo — ou seja,quando ainda se encontram ativos,em boa forma física e bem-dispostos. Essa mudança agrega uma nova dimensão às férias tradicionais compartilhadas por avós e netos: a da ousadia. Imagine excursões de bicicleta em vez de cruzeiros,caminhadas pela floresta em vez de viagens de ônibus.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),a expectativa de vida saudável,definida como "a média de anos que a pessoa pode esperar viver com saúde íntegra",sem doenças ou problemas incapacitantes,subiu no mundo todo,de 58,3 em 2000 para 63,7 em 2019. Nos EUA,40% das pessoas acima de 65 anos entrevistadas no ano passado para um estudo da Fundação Outdoor disseram fazer algum tipo de atividade ao livre,como caminhar ou andar de bicicleta. Além disso,essa faixa etária agora tem mais condições de bancar as férias: os norte-americanos com 55 anos ou mais hoje controlam quase 70% da renda familiar; em 1989,esse volume era de 50%.
Rick Rhoads,na Escócia — Foto: Robert Ormerod/The New York Times
As agências já prestaram atenção nesse detalhe. A Craft Travel,voltada para o mercado de luxo,que organiza cerca de 150 itinerários por ano,confirma um grande aumento de viagens de avós e netos de 2019 para cá,como confirma a fundadora,Julia Carter:
— Sem dúvida,a tendência hoje está mais voltada para experiências mais arrojadas,como safáris na África,caminhadas na Patagônia e viagens à Antártida.
As operadoras de turismo e organizadoras de atividades,que geralmente não impõem limite etário para suas opções (embora algumas exijam idade mínima),estão abrindo espaço para esse novo grupo. Veja alguns exemplos:
O Jean-Michel Cousteau Resort em Savusavu,Fiji,que organiza sessões de mergulho com snorkel e tanque,já teve avós de até 84 anos acompanhando os netos. Para os hóspedes com mais de 70,oferece um treinamento padrão de segurança e um médico para assinar o atestado de confirmação de boa saúde.
A Road Scholar,operadora voltada para o público mais idoso que já conta com um catálogo on-line de itinerários para avós e netos,descreve em detalhes as demandas físicas de suas viagens,de modo que o cliente pode decidir se tem condições ou não de fazê-las. A descrição da sessão de rafting no Rio Lower Salmon,em Idaho,por exemplo,avisa que o viajante "vai ter de carregar mochila em terreno irregular,em temperaturas geralmente acima dos 32°C".
A Backroads,que promove programas multigeracionais de ciclismo,caminhada,mergulho e caiaque,envia dicas de treinamento antes da partida. Como muitas outras empresas do setor,disponibiliza bicicletas elétricas e estipula a idade mínima dos participantes entre 15 e 17 anos.
— Alguns avós usam a elétrica para acompanhar o ritmo dos netos,mas,dependendo da condição física geral,às vezes são os mais novos que apelam para ela — informa Liz Einbinder,representante da companhia.
Rick Rhoads,na Escócia — Foto: Robert Ormerod/The New York Times
E há os idosos que estão embarcando em aventuras mais radicais. Nick Steers,diretor executivo da Great Canadian Bungee,que recebe mais de dez mil pessoas por ano em Chelsea,no Quebec,para saltar de bungee jump,fazer tirolesa e rafting,conta que quase 5% dos participantes têm pelo menos 60 anos,e muitos estão acompanhando a família. Ron Jones,fundador da Bungee America,na periferia de Los Angeles,diz que,em julho,uma garota de 15 anos saltou com os avós.
Os idosos mais animados dão dicas para quem está pensando em fazer um passeio de aventura com os netos.
— A preparação é essencial — alerta Joe Bassett,de 60 anos,gerente da agência de passeios guiados Valiant Outfitters,que também leva os netos para fazer caminhadas e acampar,sendo que o mais novo tem sete anos. — É interessante percorrer a trilha com antecedência,para saber o que esperar. A rota ideal é um circuito que não tenha mais de dois ou três quilômetros ida e volta. Outra coisa: prefira as refeições simples,opções de que as crianças gostem já prontas,que não exijam preparo.
Harriet Vogel,de 84 anos,de Palm City,na Flórida,também tem conselhos para dar:
— Escolha as atividades interessantes para ambos; é melhor nutrir esperanças,e não expectativas; deixe a viagem fluir.
Cinco anos atrás,quando tinha 79,ela comemorou a formatura do neto,Matthew,na faculdade,indo com ele a São Cristóvão e Névis,no Caribe,para mergulhar,praticar surf com remo e pedalar,atividades de que ambos gostam. No ano passado,foi a vez da neta Jessie: as duas foram fazer caminhada na Suíça,em viagem organizada pela Backroads. No fim deste ano,ela pretende sair com outro neto.
— É um tempo juntos que reforça a relação — diz ela.
Embora muitos idosos estejam preparados para sair por aí se aventurando com os netos,nem todos têm ânimo de lidar com a tecnologia de organização da viagem.
Quando a Fin Expeditions,em Cocoa Beach,percebeu um aumento de interesse em passeios de caiaque de grupos multigeracionais,fez questão de manter uma linha telefônica de atendimento e reservas para quem não quer/não gosta de lidar com sites.
Mas esse tipo de ajuda não foi necessário para Fran Doran,de 79 anos,de Butte,em Montana,que levou a neta à Tailândia para fazer mergulho com tanque como presente de formatura.
— Organizei tudo on-line sozinha,inclusive o passeio de barco na presença de elefantes. Pesquisar é divertido — garante.