O empresário mineiro Lucio Pereira dos Reis desembolsou R$ 10 mil para ajudar a campanha de Marçal — Foto: Reprodução/Redes sociais
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 05/09/2024 - 03:31
Candidato sem fundo eleitoral arrecada R$1,7 mi de 26 mil doadores com perfis diversos
O candidato Pablo Marçal,sem fundo eleitoral,recebeu R$1,7 milhão de 26 mil doadores,incluindo um bilionário e uma mulher de uma favela. Destacam-se apoiadores influentes de diferentes áreas. Marçal atrai apoio nacional e promove eventos de arrecadação. Doadores possuem perfis diversos,como um empresário endividado e um bilionário,evidenciando a perplexidade e a burstiness das contribuições.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Mais que doadores,os principais financiadores da campanha de Pablo Marçal (PRTB) à prefeitura de São Paulo têm perfis que ajudam a compor os valores e categorias profissionais que o candidato busca personificar. Pessoas ligadas ao mercado financeiro,instituto de ideias libertárias,consultorias e agronegócio fazem parte da lista dos que mais botaram dinheiro na candidatura. A lista também ilustra a expansão da onda Marçal para fora da capital paulista,com doadores de outros estados. Entre eles,um empresário mineiro de 75 anos que pagou,no ano passado,R$ 250 mil pela mentoria mais cara oferecida pelo influenciador — Lucio Pereira dos Reis desembolsou R$ 10 mil para a campanha.
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Apoiador de Jair Bolsonaro (PL) — exibe até um quadro do ex-presidente no escritório em que trabalha —,Lucio Pereira dos Reis comanda uma imobiliária em Belo Horizonte,mas vê Marçal como a “solução” para São Paulo,cidade que diz frequentar. O investimento que fez na campanha é módico se comparado ao montante 25 vezes superior que se orgulha de ter pago na mentoria.
— Conversamos com ele uma vez por semana,tem aula por vídeo. Também temos aulas presenciais no resort ou na plataforma dele em Alphaville,além de encontros que a gente marca. É um negócio fantástico — descreve o empresário,que afirma ter buscado no curso uma forma de aprender a gerenciar melhor o próprio dinheiro.
Reis simboliza mais de um aspecto comum à onda Marçal: é aluno do influenciador,apoia a candidatura a despeito de não ser paulistano e discorda da aliança entre Bolsonaro e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Classifica o candidato à reeleição como “fraquinho” e avalia que o ex-presidente errou na escolha. O posicionamento joga luz sobre o que especialistas vêm apontando: o bolsonarismo pode ter chegado a um momento em que já não depende do envolvimento direto de Bolsonaro para se manter vivo.
Recordista
Chama atenção,no topo das doações,a discrepância de poderio financeiro entre os apoiadores. Se o bilionário Helio Seibel,da HS Investimentos,encabeça a lista dos 26 mil doadores com uma transferência de R$ 100 mil,há casos como o de uma mulher com endereço registrado em uma favela da Zona Norte de São Paulo e que,apesar de enfrentar na Justiça processos movidos por instituições financeiras,decidiu investir R$ 25 mil na candidatura. É a quarta que mais doou. As quantias de R$ 10 mil e R$ 25 mil,inclusive,seguem padrões,com mais de um apoiador fazendo Pix dos mesmos valores.
No total,até ontem,o CNPJ do candidato tinha arrecadado R$ 1,7 milhão com a ajuda de 26 mil CPFs — recorde nacional no número de pessoas físicas. Enquanto as demais campanhas são abastecidas por poucas e volumosas doações,com Marçal a lógica é inversa: nenhum valor passou de R$ 100 mil,e R$ 10 mil são suficientes para colocar alguém no top 10 dos que mais contribuíram.
O valor acumulado até agora,no entanto,ainda é bem abaixo do que os principais adversários conseguiram via fundo eleitoral — Ricardo Nunes (MDB),por exemplo,recebeu R$ 27 milhões dos partidos da coligação.
Junto com Seibel,quem encabeça o cardápio de financiadores de Marçal é o empresário goiano Helvio Paulo Ferro Filho,conterrâneo de Marçal. Em 2022,Helvio foi preso por porte ilegal de arma e respondeu ao processo em liberdade.
Abaixo deles,na casa das dezenas de milhares de reais transferidos,há vários colaboradores com quantias parecidas. A lista inclui Kayky Janiszewski,influenciador que,assim como Marçal,oferece mentorias na internet. Nas redes,o jovem diz que ficou milionário aos 16 anos por meio da venda de Private Label Rights (PLRs).
Não são poucos,no rol de doadores,os que trabalham com marketing e consultorias. Vitor Augusto Ferreira Alonso,apresenta-se como líder de projetos no Grupo Acelerador e está entre os que doaram R$ 25 mil para Marçal.
Raduan Melo,por sua vez,contribuiu com R$ 10 mil. Ele é sócio de uma consultoria empresarial e da LVM Editora,além de conselheiro do Instituto Mises Brasil. Raduan define-se como “libertário”.
Lucio Pereira dos Reis e Helvio Paulo não são os únicos de fora de São Paulo entre os maiores doadores. Há também um comerciante do Rio e representantes da família Geo,de Minas. Influente na capital mineira — chegou a reunir este ano,em uma festa junina,os presidentes dos adversários Cruzeiro e Atlético Mineiro —,o empresário do agronegócio e da mineração Argeu Geo transferiu R$ 10 mil para Marçal.
Já Danecleide Claudia da Silva,de 35 anos,é detentora de um imóvel simples em uma favela da Zona Norte paulistana e doou R$ 25 mil. Ela responde a processos na Justiça movidos por instituições financeiras que,somados,cobram mais de R$ 260 mil.
Em mais de uma vez,a Justiça autorizou mandados de busca e apreensão para apreender carros de Danecleide no âmbito dos processos de alienação fiduciária. O resultado mais comum,é o oficial de Justiça relatar que os bens não foram localizados no endereço registrado no nome dela.
Danecleide Claudia da Silva é detentora de um imóvel simples em uma favela da Zona Norte paulistana — Foto: Matheus de Souza/Agência O GLOBO
O GLOBO procurou a doadora por meio de diferentes telefones e bateu à porta do endereço,que hoje é alugado para outra pessoa.
— A gente não sabe,mano. Se tu quiser saber dela,procura em outro lugar com outra pessoa. A gente não sabe,beleza? Valeu,boa noite aí — disse o atual morador.
Em um dos números de telefone registrados no nome de Danecleide em uma base de dados,outra mulher atendeu e,perguntada se era a doadora de Marçal,revoltou-se.
— Essa Danecleide está devendo a Deus e o mundo,e todo mundo me liga cobrando — disse.
Jantar de arrecadação
Na quarta-feira,Marçal promoveu um jantar na casa do advogado Marcelo Tostes,no bairro do Jardim Europa,na tentativa de arrecadar dinheiro para a campanha. O valor mínimo sugerido era R$10 mil.
Entre os que compareceram,estavam o ex-lutador de MMA Rodrigo Nogueira,conhecido como “Minotauro”; o ex-jogador de futebol Marcelo Moreno,que atuou pelo Cruzeiro; e empresários como Bruno Musa,sócio de uma empresa de investimentos.
(colaboraram Rafael Garcia e Victoria Abel)