Ser fã para ser melhor

Pulseiras de fãs da cantora Taylor Swift penduradas na Árvore Swiftie,na rua Cornelius Strasse em Viena,Áustria — Foto: Alex HALADA / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 15/08/2024 - 04:30

O Poder da Idolatria: de Fãs a Extremistas

Ser fã molda nossa identidade desde a juventude,mas seu poder é subestimado. Idolatria pode ser aliada ao ensino formal. O fenômeno do "hype" transforma políticos em popstars,mudando o cenário eleitoral. Extremistas usam idolatria para seus fins. Um caso triste mostra como a idolatria pode levar a atos extremos.

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Os fãs,ou o espírito de um fã soprado em cada um de nós assim que nascemos,sustentam o mundo. Sem eles,Jesus Cristo não existiria. Nem pais,mães,irmãos mais velhos,líderes políticos,atletas,intérpretes,padres,pastores,dramaturgos,atores,escritores,cineastas,músicos,cantores,cantoras,DJs,modelos,chefs de cozinha. Tudo isso existe porque,em alguma dimensão,foi criada uma base de fãs que viabilizou suas existências iniciais. Ser fã ensina. E,se não vivemos na adolescência a radicalidade pura dessa experiência,iniciada na música por inofensivos ídolos com devoções geracionais que vão de Elvis Presley ao Black Pink,pulamos da primeira infância para a última velhice dotados de um caráter,no mínimo,suspeito.

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Ao elegermos ídolos na adolescência,logo depois de rompermos com os heróis familiares,decretamos maravilhados nossa independência intelectual. Ídolos nos lançam à primeira especialização. Tiramos dois em matemática,mas sabemos tudo sobre eles. Em pouco tempo,será preciso limpar sua honra nas redes sociais e defendê-los dos críticos (um fã sempre saberá mais sobre seu ídolo do que qualquer crítico). A primeira prática de lealdade de nossas vidas exigirá argumentação e,assim,levantaremos nossas primeiras defesas. Vamos perceber,então,que outras milhares de pessoas estarão ao nosso lado e aprenderemos,aos 15 anos,que existe uma força coletiva impulsionada pelo desejo comum. Quando o ensino formal entender a idolatria juvenil como aliada,coisas boas poderão acontecer.

Mas ser fã não tem sido fácil. Sua relevância é subestimada pelos pais,ignorada pelas escolas,rechaçada por grupos religiosos,ridicularizada pelos próprios artistas e colocada no alvo pelos terroristas. A ideia geral é de que as pulsões idólatras devem ser sufocadas. Idolatrias formariam pessoas intelectualmente deformadas,politicamente extremistas,espiritualmente cegas e socialmente chatas. Há argumentos para isso,mas as toxinas,por pior que seja a qualidade artística de um ídolo da música,têm saído de outros campos.

Ao trocar a ideologia partidária pela idolatria pop,a política parou de produzir estadistas para gerar ídolos impulsionados pela capacidade de recriarem-se como “hype”,outro fenômeno importado da música pop. Ser “hype” é ser “o próximo auge”,sentimento que torna alguém um auge hoje. Trump chegou ao limite do hype quando levou o tiro de raspão na orelha. Dias depois,Biden deu uma cartada de mestre ao sair do jogo na hora certa e substituir o hype Trump pelo hype Kamala Harris,que não para de subir nas pesquisas. Se Biden tivesse saído quando todos pediam,era Kamala quem seria atropelada pelo hype provocado pelo posterior tiro na orelha de Trump. Aposta minha: depois da era da polarização,que já tem suas fronteiras borradas pelo trânsito de eleitores renunciando convicções ideológicas e migrando para campos opostos,esquerda e direita serão reminiscências enjoativas do passado. Quem vencerá eleições,como em uma lista das mais tocadas no Spotify,serão os candidatos popstars mais hypados da temporada.

Grupos religiosos extremistas também usam o poder da idolatria adolescente em benefício próprio. Muitas velas estarão acesas hoje,quando Taylor Swift surgir no Estádio de Wembley,em Londres. Serão cinco shows da Eras Tour,com estimados 90 mil fãs por noite. Taylor volta a um palco depois que três shows foram cancelados em Viena,na Áustria. A polícia descobriu que três jovens — com idades entre 15,17 e 19 anos,e ao menos um com juras de fidelidade ao Estado Islâmico — planejavam fazer um ataque suicida contra os fãs de Taylor. O mais velho construiu uma bomba com produtos químicos. Um carro seria guiado contra a multidão reunida na entrada do estádio. Além do explosivo,facas e facões seriam usados na carnificina. Diante da guerra de ídolos do Estado Islâmico contra os ídolos de Taylor Swift,eu lembraria meus filhos dos dias em que eu era o único ídolo de suas vidas e os deixaria em casa.

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