Travessia de risco: Motoristas e pedestres disputam Avenida Lúcio Costa, onde atropelamentos sobem 40%

Na Avenida Lúcio Costa,rotina dos pedestres x carros que transitam pela via que ao longo dos anos foi palco de acidentes de grande repercussão. Pessoas atravessando na faixa de pedestres no Recreio,mas sem sinal — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 05/08/2024 - 04:30

Aumento de atropelamentos preocupa na Avenida Lúcio Costa

A Avenida Lúcio Costa,na Barra da Tijuca,enfrenta aumento de 40% nos atropelamentos. Pedestres lutam para atravessar,motoristas reclamam de imprudência,e casos trágicos como o do fisioterapeuta Fábio Kikuta geram debate. Fiscalização,sinalização e responsabilidade são essenciais para reduzir acidentes. Medidas de segurança,como radares e planejamento urbano,são sugeridas para melhorar a situação na via.

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Como um ritual,todas as manhãs,o servidor público Marcelo Martins — morador do Condomínio Barramares,no número 3.300 da Avenida Lúcio Costa —,caminha pela orla. A via,que liga a Barra da Tijuca ao Recreio dos Bandeirantes,é uma das principais da Zona Oeste do Rio. Cerca de 80 mil veículos circulam por ela todos os dias. Pai de três filhos,Marcelo conta que,para garantir o lazer antes de trabalhar,precisa travar uma luta diária para atravessar a rua. É que a faixa de pedestres em frente ao residencial não possui sinal de trânsito,e os veículos raramente param para que as pessoas possam cruzar a pista.

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Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB),é dever do motorista deixar o pedestre atravessar nas faixas de segurança em vias sem semáforo. O carro precisa parar antes da sinalização,e só seguir quando a pessoa tiver percorrido completamente a pista. Mas o cenário que se vê na Lúcio Costa é outro. Alguns moradores arriscam-se cruzando a avenida em meio aos carros,aumentando a chance de acidentes. O local tem sido marcado por histórias dramáticas de atropelamentos como o ocorrido em 13 de julho,causando a morte do fisioterapeuta Fábio Toshiro Kikuta,de 42 anos,horas após o seu casamento.

Na Avenida Lúcio Costa,rotina dos pedestres x carros que transitam pela via que ao longo dos anos foi palco de acidentes de grande repercussão. Marcelo Martins,43 anos,servidor público,atravessando na faixa enfrente o Barramares,mas sem sinal — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Na segunda reportagem da série “A batalha das ruas”,O GLOBO mostra a disputa por espaço e os desafios enfrentados por pedestres e motoristas na região. Em um ano,o número de atropelamentos com vítimas só cresce na avenida. De janeiro até julho de 2024,o Corpo de Bombeiros foi acionado para 35 casos. No mesmo período do ano passado,foram 25. Um aumento de 40%.

— É um dilema atravessar aqui. Os carros não costumam parar. Às vezes um para,a gente sinaliza que vai atravessar,mas outro motorista avança. O risco de atropelamento é grande. Deveria ter mais sinalização. Do ponto de vista do motorista entendo que reduzir a velocidade da via talvez cause mais congestionamento — diz Marcelo,de 43 anos.

Imprudência

Mas se há queixas de pedestres,motoristas também cobram responsabilidades. Cláudio de Oliveira,que costuma rodar por aplicativo na Barra e no Recreio,afirma que quase se envolveu em um acidente na Lúcio Costa,no início do ano. Ele conta que uma mulher atravessou com o sinal aberto para os carros:

— Tive que frear rapidamente. Por pouco o veículo que vinha atrás batia na minha traseira. A sociedade pede para os motoristas terem cautela,mas esquecem que os pedestres também precisam ter cuidado. A responsabilidade não pode ser apenas nossa.

A velocidade máxima na Lúcio Costa é de 70km por hora,com exceção do trecho da Praia da Reserva,onde o limite é de 60km/h.

Avenida Lúcio Costa,rotina dos pedestres x carros que transitam pela via que ao longo dos anos foi palco de acidentes de grande repercussão. — Foto: Alexandre Cassiano/ Agência O GLOBO

Dados dos bombeiros mostram ainda que a imprudência é a principal causa de acidentes e colisões na região. Nos últimos quatro anos,foram 772 colisões entre carros e motos e 245 atropelamentos.

No caso do fisioterapeuta,imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que a vítima,que atravessava a pista ao lado da esposa Bruna Villarinho,na noite do seu casamento,é arremessada por uma BMW dirigida pelo influenciador Vitor Belarmino,que fugiu. Contra ele,há um pedido de prisão temporária. Vitor está foragido.

— O Vitor precisa assumir o que ele fez naquele dia em que decidiu sair com o carro em alta velocidade. Quando aconteceu o fato,não foi uma multidão de gente que chegou muito rápido. Pelo contrário,algumas poucas pessoas pararam para ajudar. Eu sei que as coisas não vão voltar,mas ele (Vitor) precisa ser responsabilizado. Ele pode até ser uma boa pessoa,mas assumiu o risco de matar e precisa pagar por isso — cobra Bruna.

nterro de Fábio Toshiro Kikuta. Ele foi atropelado pelo influenciador Vitor Vieira Belarmino que estava alcoolizado enquanto dirigia sua BMW. De casaco cinza a esposa da vítima. — Foto: Beatriz Orle/O Globo

O atropelamento é investigado pela Polícia Civil como homicídio com dolo eventual,quando se assume o risco de matar. No carro do influencer,os agentes encontraram manchas de vinho e taças quebradas.

Em setembro do ano passado,o ator Kayky Brito foi atropelado na via. Na investigação,a polícia descartou que a culpa tenha sido do motorista,já que o ator atravessou fora da faixa e na frente do carro,que trafegava em velocidade abaixo da permitida no local.

Já em 30 de julho de 2022,o modelo Bruno Moreira Krupp,pilotava uma moto em alta velocidade na Lúcio Costa. Quando estava na altura do Posto 3,atropelou e matou o estudante João Gabriel Cardim Guimarães,de 16 anos.

— Decidimos atravessar fora da faixa,porque olhamos,não vimos carro vindo e parecia que o sinal mais à frente estava fechado. Foi nessa hora que a moto passou em alta velocidade,nos atropelou e avançou o sinal. Acho importante reduzir a velocidade da via,mas as pessoas precisam cumprir as regras. Regulamentações e punições precisam funcionar. Um rapaz de classe média tirou a vida do meu filho,e nada aconteceu. A sensação que isso passa é que o atropelador pode tudo — lamenta Mariana Cardim,mãe do jovem.

Mariana Cardim pede justiça pela morte de seu filho João Gabriel Cardim,de 16 anos,após soltura de Bruno Krupp — Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

Em nota,o Tribunal de Justiça do Rio afirmou que Krupp está respondendo ao processo e cumprindo medidas cautelares. E ressaltou que “o recurso pedindo a despronúncia,para que o crime de homicídio fosse desclassificado para lesão corporal,feito pela defesa,foi rejeitado”. Ainda não há data para o julgamento.

‘Plano de segurança’

Uma das razões para alto índice de acidentes na Lúcio Costa,segundo frequentadores,seria o funcionamento irregular dos sinais de trânsito. A reportagem flagrou,na semana passada,alguns casos,além de pelo menos cinco faixas sem semáforo e até ônibus desembarcando passageiros na pista,fora do ponto. No Quebra-Mar,na Barra,o trecho entre o restaurante Mocellin Mar,no Píer,até a altura da Rua Tenente Airton Pereira,não há sinalização para pedestres. Para atravessar em segurança,é preciso caminhar cerca de dez minutos até o sinal mais próximo.

Local na Avenida Lúcio Costa na Barra,onde Kayky Brito foi atropelado. — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Para Danielle Hoope,mestre em Planejamento Urbano e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,a solução mais eficaz é fazer um planejamento de segurança,que inclua mais fiscalização e,até mesmo,“um redesenho da via”.

— A prefeitura pode reduzir a largura das faixas de circulação do carro porque,neste caso,o motorista se sente convidado a diminuir a velocidade. Estudos feitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que pistas que possuem velocidade máxima de 50km/h correm menos risco de acidentes fatais — afirma a especialista,pontuando que a Lúcio Costa precisa ter mais radares de velocidade: — Não adianta colocar uma via local,por exemplo,com velocidade de 70km/h,sem fiscalização devida. Isso convida o motorista a querer acelerar e,em casos mais graves,a imprudência faz com que o condutor queira correr por acreditar que a via foi projetada para isso.

Em nota,a CET-Rio informou que a Lúcio Costa possui dez radares. E que a pasta registrou redução de multas por excesso de velocidade e avanço de sinal na avenida.

A prefeitura argumenta que “não é obrigatória a existência de semáforos em todas as faixas de pedestres”,segundo o Código de Trânsito. “Cada ponto é avaliado de acordo com a necessidade do tráfego”,diz a nota. Ressaltou que a Guarda Municipal atua diariamente na via. Quando esteve no local,a reportagem não registrou a presença de agentes de trânsito nos 18,3 quilômetros da via.

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